tag:blogger.com,1999:blog-28661066036763621222024-02-20T18:10:22.873+00:00À Porta Fechada II(Confissões do Eu)Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.comBlogger41125tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-19458606546563335682009-07-10T00:00:00.002+01:002009-07-15T00:02:14.124+01:00<div align="justify">- Edna, está aqui o Magalhães.</div><div align="justify">- Mande-o entrar.</div><div align="justify">- Que cara é essa? Está doente?</div><div align="justify">- É a minha. Estou de óptima saúde, graças a deus!</div><div align="justify">- Ah! Graças a deus, que lindo! Esse seu deus...</div><div align="justify">- Ainda agora cheguei e parece que começamos mal...</div><div align="justify">- Ora! Não seja assim! E deixe a porta aberta.</div><div align="justify">- A porta aberta?</div><div align="justify">- Sim, não feche a porta. Penso que a conversa é rápida, não é?</div><div align="justify">- É? Não sei...</div><div align="justify">- Não sabe? Como não sabe? Você é que me disse que tinhamos de conversar! Sente-se, sente-se!</div><div align="justify">- E você é que me ligou a concordar!</div><div align="justify">- Ouça, não me faça perder tempo, vá directo ao assunto!</div><div align="justify">- Você faz-me perder as estribeiras, Edna!</div><div align="justify">- Fale!</div><div align="justify">- Não há muito para dizer. Quero que saiba que aquilo que aconteceu em sua casa não foi pensado, não o planeei, aconteceu...</div><div align="justify">- Aconteceu porque quisemos os dois!</div><div align="justify">- Sim, claro! Não, não é isso! Eu não quería!</div><div align="justify">- Bom, daqui a pouco vai-me dizer que o violei...</div><div align="justify">- Não seja sarcástica! Sabe o que quero dizer. Não houve premeditação da minha parte, mas de repente, de repente... eu, você... tem de entender!</div><div align="justify">- Não estou a perceber nada, Magalhães.</div><div align="justify">- O que lhe quero dizer é que aquilo foi uma reacção animal, eu não sou homem de fazer aquelas coisas sem sentir alguma coisa por uma mulher...</div><div align="justify">- E não sentiu? Quer dizer, não sente?</div><div align="justify">- Claro que sim! Não, quero dizer, não nesses termos em que está a tentar pôr as coisas!</div><div align="justify">- Mas que coisas, Magalhães? Que tanto eu como você nos sentimos atraídos como uma mulher e um homem? Eu não estou a falhar-lhe de amor, de paixão! Poupe-me!</div><div align="justify">- Eu conheço-a Edna! Você não é assim! Não é só assim!</div><div align="justify">- Mas assim como?</div><div align="justify">- Uma predadora!</div><div align="justify">- Aí é que você se engana...</div><div align="justify">- Você está a precisar de mais umas palmadas como eu já lhe dei! Mimalha! Pirralha!</div><div align="justify">- Acho que estamos conversados!</div><div align="justify">- Ah, pois estamos!</div><div align="justify">Levantou-se, fechou a porta à chave e tirou o casaco.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-22074117895292591422009-07-09T00:00:00.002+01:002009-07-14T23:44:00.068+01:00<div align="justify">Falemos de mim, então.</div><div align="justify">De como este consultório de tanto aqui vir se parece ter entranhado na minha pele, na minha roupa, levo os medos e as taras destes doidos que aqui permanecem sentados, bem comportados, na sala de espera e depois se organizam em crimes fortuitos arquitectados na mente torcida que destorcem com outro alucinado que se intitula doutor.</div><div align="justify">Não há diferença entre eles.</div><div align="justify">Nem sequer no canudo que um aparentemente parece manejar, são todos formados em deformações, em desvios, em submundos que fazem parecer o meu uma voltinha no carrocel.</div><div align="justify">Agora sou eu, entro.</div><div align="justify">O canto do sofá à minha espera, a alcatifa à espera dos meus saltos, as paredes a aguardarem o meu ar de vómito, ele no seu trono improvisado ansioso pelo meu decote e pelos meus sons que o lubrificam na imaginação doentia.</div><div align="justify">Hoje faço-lhe a vontade.</div><div align="justify">Acaricio o meu peito enquanto falo da conversa que irei ter com o Magalhães, deixo que os mamilos rompam a seda da blusa impedindo-o de tomar notas, a caneta em riste é o simbolo do seu pobre falo que sufoca nas calças de má qualidade, enquanto os pés se roçam um no outro aumentando a excitação de uma visão de me pôr as mãos em cima.</div><div align="justify">Falo, falo, falo, debito até o atordoar, não me ouve. Nem eu a mim.</div><div align="justify">Levanto-me, estendo-lhe a mão que ele aperta suado na sua, limpo a minha à saia, sinto-me enojada, pressinto que se veio e saio.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-61905623477210855552009-07-08T00:00:00.002+01:002009-07-14T23:31:21.234+01:00<div align="justify">- Magalhães? Sou eu.</div><div align="justify">A partir daqui o tom de voz dele alterou-se, só o ouvía a dizer sim, pois, hum hum, está bem.</div><div align="justify">Desliguei.</div><div align="justify">Vamos falar mas aqui no escritório. Não o quero na minha casa</div><div align="justify">Lá tería a porta fechada. E seríamos só nós dois. à solta.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-92001048594477174292009-07-07T00:00:00.000+01:002009-07-14T23:22:19.265+01:00<div align="justify">A melhor maneira de lidarmos com um problema é ir ter com ele. Arrumá-lo de vez, nem que seja para nos certificarmos que não há solução.</div><div align="justify">Mas eu acredito que há uma solução para cada caso. Pode é não ser a gosto. E isto faz-me lembrar alguém que não devo recordar. Porque é um problema resolvido que não teve a solução que eu gostaría. Ou que ele gostaría.</div><div align="justify">É bem provável que as soluções passem pelas perspectivas individuais, mas isso não faz com que eu encare a minha como a errada.</div><div align="justify">Por agora tenho uma questão entre mãos que me está a ocupar espaço de atenção, coisa que me faz falta com a vaga que a Paula vai deixar.</div><div align="justify">Falo do Magalhães, ele tem razão, precisamos de falar.</div><div align="justify">Só espero que a conversa não descambe. Para o lado emocional.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-48475682881372157602009-07-06T00:00:00.000+01:002009-07-13T09:45:46.217+01:00<div align="justify">No dia que estive em casa da Paula e depois da longa conversa que tivémos, ao saír cruzei-me com o Magalhães.</div><div align="justify">Foi estranho.</div><div align="justify">Ficámos parados naquele meio-tempo da surpresa em que há coisas por dizer mas não queremos dar a entender que o encontro é perturbador. No fundo não há nada de especial em tê-lo encontrado ali: É sabido que é o protector da Paula, que ela o chama por tudo e por nada. Resta saber se não o aninhará na cama também; Talvez não... Ela está demasiado envenenada pelo outro para querer mais alguém a aquecê-la.</div><div align="justify">Paula estúpida.</div><div align="justify">Nada mais posso fazer, o mal foi ela que o fez.</div><div align="justify">Mas acho que ficou delimitado o risco que pisou e a impossibilidade de voltar aqui à empresa, a falta de condições emocionais e até profissionais, a normal comparação entre um antes e um após que nem mesmo eu podería esquecer. A minha ida à sua casa serviu-me para me tentar encontrar, saber se ela era o que eu tinha sido, a vandalização do corpo na mente pelo que se chama amor, eu saltei antes de chegar ao estádio em que ela está, ela não soube parar.</div><div align="justify">Ficou nesse dia e na sala escura da Paula determinado que o enterro era o seu, eu nem sequer chegava para o velório, aparecía sim, mas na posição de sempre, patroa, um ponto final no contrato de trabalho. </div><div align="justify">O objectivo da minha visita foi cumprido, não houve choros, não houve promessas sobre emendas.</div><div align="justify">Saí com um peso no peito, ainda tenho esse peso no peito. E uma funcionária de excepção a menos.</div><div align="justify">Quanto ao Magalhães, apenas uma frase. Dele.</div><div align="justify">-Edna, temos de falar.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-51161688308175712492009-07-05T00:00:00.000+01:002009-07-13T09:46:05.486+01:00<div align="justify">- Entre, feche a porta. Por favor.</div><div align="justify">- Diga, Edna.</div><div align="justify">- Faça as contas à Paula. Veja tudo o que lhe é devido, até ao cêntimo. Depois de ter as contas feitas voltamos a conversar.</div><div align="justify">- A Paula vai-se embora?</div><div align="justify">- Preciso disso ainda esta manhã.</div><div align="justify">- Ela vai-se embora?</div><div align="justify">- Quando saír feche a porta. E não preciso lembrar-lhe, concerteza, que ocupando o lugar que ocupa, isto é assunto sigiloso...</div><div align="justify">- Claro, claro, fique descansada!</div><div align="justify">- Pode ir. Não se esqueça de fechar a porta.</div><div align="justify">Depois de saír, tenho vontade de gritar, bater, partir coisas, fazer qualquer coisa que demonstre a minha revolta, a minha ira.</div><div align="justify">Não é justo, não é justo!</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-21422432569160131372009-07-04T00:00:00.000+01:002009-07-13T09:46:23.229+01:00<div align="justify">Tal como eu prevía deixou-me pendurada à porta.</div><div align="justify">Eu sabía que ela estava em casa, quase senti a respiração dela, o olho no olho-mágico a espreitar-me.</div><div align="justify">Quando me dirigía para o elevador senti o trinco a abrir-se. Não me voltei. Ela veio para o patamar, ficou encostada à ombreira, sentía-lhe os olhos à espera do contacto.</div><div align="justify">Só quando disse o meu nome é que me voltei.</div><div align="justify">Está um farrapo. Parece que envelheceu precocemente. Ao vê-la custa-me recordar a profissional que tive ao meu serviço, inovadora, empreendedora, arrojada, uma valentia inspiradora que punha os outros a mexer e que eu precisava para manter o sangue na guelra dos mais antigos.</div><div align="justify">Neste instante não acho nada. Se me cruzasse com ela na rua sería inexistente, um obstáculo a evitar. Para onde foi a Paula que eu conheci?</div><div align="justify">Para o amor?</div><div align="justify">Que amor cabrão é este que ataca como um vírus e mata as pessoas dentro das pessoas, suga-as e cospe um caroço amargo, comum, imprestável, feio?</div><div align="justify">Entrei. Escuro. Há quanto tempo é noite aqui dentro?</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-35380466596879117262009-07-03T00:00:00.000+01:002009-07-13T09:46:40.078+01:00<div align="justify">Dormi mal.</div><div align="justify">Aquela maluca não me sai da cabeça, até sonhei com ela, uma coisa estapafúrdia daquelas que só mesmo nos sonhos. Só me faltava isto. Já tenho tanta gente nos meus pesadelos, ainda mais esta Paula.</div><div align="justify">Desde ontem que me fixei numa coisa e não consigo concentrar-me em mais nada para além disto: Fazer-lhe uma visita.</div><div align="justify">É bem provável que nem sequer me abra a porta mas não fico bem comigo se não for a casa dela, vê-la, olhá-la nos olhos, ouvi-la chorar e berrar e até gritar comigo.</div><div align="justify">Hoje não vou ao escritório.</div><div align="justify">Hoje vou a casa dela.</div><div align="justify">Estou com a sensação de que vê-la é encontrar-me comigo.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-9053986066414204152009-07-02T00:00:00.000+01:002009-07-13T09:47:03.105+01:00<div align="justify">- Entre, feche a porta, não quero a porta escancarada.</div><div align="justify">- Não posso demorar, estou à espera da chamada do cliente do Norte...</div><div align="justify">- Não é coisa demorada.</div><div align="justify">- Diga.</div><div align="justify">- A Paula?</div><div align="justify">- Ahhh...</div><div align="justify">- Ah o quê?</div><div align="justify">- Telefonou, a dizer que está doente...</div><div align="justify">- Doente.</div><div align="justify">- Sim... Posso ir?</div><div align="justify">- Não. Que doença?</div><div align="justify">- Isso não sei muito bem...</div><div align="justify">- Páre de a encobrir, sabe como detesto mentiras, ainda mais tão escandalosamente arranjadas.</div><div align="justify">- A sério Edna, não sei! Só sei que telefonou a dizer que não podía vir!</div><div align="justify">- Muito bem.</div><div align="justify">- Posso ir? É a chamada...</div><div align="justify">- Não, não pode ir. Ligue para a Paula.</div><div align="justify">- Ah, tudo bem! Logo que atenda a chamada...</div><div align="justify">- Agora. Daqui do meu telefone.</div><div align="justify">- Agora???</div><div align="justify">- Será que ouço o eco da minha voz?! Sim, agora!</div><div align="justify">- Mas...</div><div align="justify">- Não discuta Afonso, por favor ligue-lhe.</div><div align="justify">- Não posso Edna...</div><div align="justify">- Então?</div><div align="justify">- Não posso...</div><div align="justify">- Quer contar-me o que se passa?</div><div align="justify">- Foi uma cena... A Paula apareceu...</div><div align="justify">- Onde?</div><div align="justify">- Fizémos a meia-noite em casa do Daniel...</div><div align="justify">- E?</div><div align="justify">- A Paula aparaceu, fez um escandalo, aos gritos à porta do prédio, a contar tudo...</div><div align="justify">- Lindo!</div><div align="justify">- O Daniel foi ter com ela e pediu-lhe para parar com aquilo...</div><div align="justify">- Claro que ela não parou...</div><div align="justify">- Não, não, desatou a tocar a todas as campainhas do prédio, a vizinhança, um escabeche dos diabos, fomos todos ver se a acalmávamos mas a mulher tinha o diabo no corpo, não paráva de dar pontapés, estava entornada, sei lá!</div><div align="justify">- Que bela cena... </div><div align="justify">- Mas a coisa piorou quando a mulher do Daniel chamou a Policia e aí é que foram elas!</div><div align="justify">- O quê?! Saíu melhor que a encomenda!</div><div align="justify">- Pois foi, veio a Policia mas até a eles ela desatou a mandá-los para o... está a perceber?</div><div align="justify">- Estou, mas gostava muito que o dissesse.</div><div align="justify">- Para o, o, percebe?</div><div align="justify">- Já percebi, go on...</div><div align="justify">- Bem, resumindo: A bófia levou-a mas não a prendeu. Devem ter tido pena, sei lá...</div><div align="justify">- E você?</div><div align="justify">- Eu?</div><div align="justify">- Teve pena?</div><div align="justify">- Nem sei... No inicio estava-lhe com uma raiva tremenda, acho que até me apeteceu dar-lhe uns carolos mas depois...</div><div align="justify">- E deu?</div><div align="justify">- Claro que não Edna! Eu não bato em mulheres!</div><div align="justify">- E depois?</div><div align="justify">- Depois tive pena dela... Saber como ela é aqui, conhecer a profissional e vê-la daquela forma, foi uma coisa mesmo triste. Acho que ela nunca mais vai aparecer.</div><div align="justify">- Vai sim. Pelo menos uma última vez. </div><div align="justify">- Acha?</div><div align="justify">- Pode ir Afonso. E deixe a porta aberta.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-77138870409115663652009-01-01T00:00:00.002+00:002009-01-10T22:56:46.787+00:00<div align="justify">Abomino estes festejos.</div><div align="justify">Hoje é exctamente igual a ontem.</div><div align="justify">Estou a mesma do ano passado, sinto o mesmo que já sentía.</div><div align="justify">Apenas me dói a cabeça.</div><div align="justify">Despertei com uma barulheira infernal e era o fogo de artificio, as tampas dos tachos, assobios.</div><div align="justify">Estúpidos. São estúpidos ao enganarem-se. Nada se alterou.</div><div align="justify">Hoje estamos vivos e amanhã estamos todos sete palmos abaixo.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-15784186693340403672008-12-31T00:00:00.001+00:002009-01-10T22:52:38.460+00:00<div align="justify">Porquê?</div><div align="justify">Não vou negar que me perturbou. Que o sangue pingou do nariz para a boca e da boca para dentro e soube a fel.</div><div align="justify">De repente o meu saco encheu-se, muita gente lá dentro, uma azáfama barulhenta.</div><div align="justify">Estou tonta.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-46283234240227399542008-12-30T00:00:00.002+00:002009-01-10T22:49:39.950+00:00<div align="justify">- Olá Edna.</div><div align="justify">- Com que direito é que me estás a ligar?</div><div align="justify">- Estou a ligar-te para te desejar bom ano... Que tudo te corra como desejas...</div><div align="justify">- Porque é que me estás a ligar?</div><div align="justify">- Deixa-te disso. Sabes que te quero bem!</div><div align="justify">- A sério?! Olha que novidade!</div><div align="justify">- Baixa as defesas! Não comigo, não o faças comigo!</div><div align="justify">- Meu caro, faço-o especialmente contigo!</div><div align="justify">- Olha... Não quero fical mal contigo... Desejo mesmo que sejas feliz...</div><div align="justify">- O bom samaritano!</div><div align="justify">- Nada disso! Tu tens tudo para seres uma mulher feliz! Não o és porque não queres, tens medo de ser feliz... essa é que é a verdade.</div><div align="justify">- Devías montar um consultório. Ganhavas bom dinheiro.</div><div align="justify">- Isso, continua assim... Eu conheço-te Edna, não me vou zangar. Tens medo! E só me apercebi disso depois que nos separámos...</div><div align="justify">- E que tu te casaste? É verdade, conta-me lá... então como te dás no sagrado matrimónio?</div><div align="justify">- Bem, muito bem.</div><div align="justify">- Jura! E foi por isso que me ligaste?</div><div align="justify">- Para te desejar um bom ano! Um bom ano!</div><div align="justify">- Sim, claro... Mas para isso foi preciso lembrares-te de mim! Ou não?</div><div align="justify">- Eu não te esqueço.</div><div align="justify">- Coitada da tua amantissima esposa...</div><div align="justify">- Não tem nada a ver. </div><div align="justify">- Ah! Estou a ver que não! Que foi? Deu-te saudades?</div><div align="justify">- Não é isso, vê lá se entendes...</div><div align="justify">- Claro que entendo! Estás arrependido!</div><div align="justify">- De forma algum. E custa-me ter de te dizer isto... desta forma e por telefone. Como te disse, liguei para te desejar que sejas feliz no terminar deste ano e no começo do que vem. Tu és especial, mereces ser feliz. Se deixares de ter medo da felicidade. É só isso.</div><div align="justify">- Ah! Muito obrigado! A minha vida ficaría incompleta sem os teus votos! Pena que eu não te deseje o mesmo...</div><div align="justify">- Vou fazer de conta que nem ouvi...</div><div align="justify">- Mas sabes... para a minha felicidade ser completa só falta mesmo uma coisinha de nada...<br />- Diz.</div><div align="justify">- Não voltes a incomodar-me.</div><div align="justify">- Tenho pena que sintas assim...</div><div align="justify">- E eu tenho pena de ti. Pena que existas.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-87490147535546836802008-12-29T00:00:00.002+00:002009-01-10T22:30:54.358+00:00<div align="justify">Não apareceu.</div><div align="justify">Fez birrinha e não deu as caras.</div><div align="justify">Era só o que me faltava, um homem feito a fazer beiço e a amuar.</div><div align="justify">Além disso, retarda a minha sede de vingança. Pensa ele ou qualquer outro que me desligam o telefone na cara e fica por isso mesmo? Por um mero pedido de desculpas? Que aliás o Magalhães ainda nem o proferiu.</div><div align="justify">Mas vai fazê-lo. E vai desejar amargamente me ter tratado desta maneira.</div><div align="justify">O facto de me conhecer mais intimamente não lhe dá privilégios, não lhe dá o direito de me ignorar, não lhe dá o direito de me tratar como uma criança que se põe de castigo.</div><div align="justify">A ver vamos.</div><div align="justify">Eu não me esqueço, nem que dure cem anos.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-33585181208756274602008-12-28T00:00:00.002+00:002008-12-29T00:33:25.541+00:00<div align="justify">- Vou chegar hoje ao final do dia e espero que me recebas... Temos de conversar.</div><div align="justify">- Conversar... Pois.</div><div align="justify">- Sim, conversar, falar. Como dois adultos que somos.</div><div align="justify">- E mais?</div><div align="justify">- Mais o quê?</div><div align="justify">- Desentendido Magalhães?</div><div align="justify">- Não seja vulgar!</div><div align="justify">- Púdico! As Beiras quase o tornam um padre...</div><div align="justify">- Pois a cidade a si Edna, não lhe alivia a estupidez! Com licença!</div><div align="justify">(Desligou-me o telefone, a grande besta... É a segunda vez que me desliga o telefone na cara. Isto não vai ficar assim.)</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-58726321389408313562008-12-27T00:00:00.001+00:002008-12-29T00:24:41.883+00:00<div align="justify">O silêncio do escritório a um Sábado de manhã permite desenvolver sem interrupções. Mas também abre brechas no pensamento, tudo se ouve e embora esteja completamente sózinha o vicio levou-me a fechar a porta do gabinete.</div><div align="justify">Ninguém vai entrar.</div><div align="justify">Mas fecho-a porque preciso que tudo o que está aqui, comigo e agora, nada saia, nada transpire que seja de uma gota só, do meu sangue, das minhas iras suadas, das vezes do sexo ocasional fora de horas, das lágrimas que não choro.</div><div align="justify">Preciso de me sentir livre nestas paredes muradas que já escutaram palavras de teimosia, de negócios, de desafios, as da despedida para sempre, as de uma louca que conseguiu romper as minhas fronteiras e aparecer ao ataque de quem aqui pisou. O meu terreno, a minha toca.</div><div align="justify">Afogo-me neste silêncio ruidoso.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-69592806297660556662008-12-26T00:00:00.005+00:002008-12-27T04:59:03.618+00:00<div align="justify">Finalmente.</div><div align="justify">O regresso à (quase) normalidade. Ainda falta aquela cretinice do final do ano, dos tachos e dos apitos, o convencimento de que se vai começar outra vez alguma coisa.</div><div align="justify">Isto só traz prejuízo à empresa.</div><div align="justify">Pelos empregados que andam com a cabeça noutra esfera e pelos clientes que se ausentam para outra esfera.</div><div align="justify">Até o Magalhães.</div><div align="justify">Que raio de interesse haverá nas Beiras?! Não estou nada a ver aquele homem fora da confusão da cidade, a fazer de pai extremoso, sem gravata, rodeado da famelga...</div><div align="justify">Vou ter que esperar para descobrir mais sobre este Magalhães misterioso... Será o meu Cabo das Tormentas, passe a piada fraquita...</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-5916506283312667182008-12-25T00:00:00.002+00:002008-12-26T20:03:27.762+00:00<div align="justify">- Come mais um bocadinho! Mal provaste!</div><div align="justify">- Não quero mais.</div><div align="justify">- Ainda com a mania das dietas?</div><div align="justify">- Não quero mais.</div><div align="justify">- Estive eu a fazer o perú com tanto esmero e tu só debicas... Olha! Come só do recheio! Tem nozes e castanhas como tu gostas!</div><div align="justify">- Mãe, não me estás a ouvir. Não quero mais.</div><div align="justify">- Tu tens que ir ver esse fastio! Isso não é normal!</div><div align="justify">- Não comeces...</div><div align="justify">- Olha para isto! Tanta comida! Ainda pensei que o Magalhães viesse, mas quando ele ligou...</div><div align="justify">- O Magalhães ligou?</div><div align="justify">- De manhãzinha. É de uma delicadeza aquele senhor...</div><div align="justify">- O que é que ele quería?</div><div align="justify">- Desejar-me um bom Natal. Que quando voltasse quería visitar-me, trazer-me uma lembrança...</div><div align="justify">- Voltar? Mas onde é que ele está?</div><div align="justify">- Está para as Beiras. Ai... Ele até me disse o nome da terra mas eu agora não me lembro...</div><div align="justify">- Beiras???</div><div align="justify">- Sim! Ele e o filho, foram ter com a familia que tem lá para cima!</div><div align="justify">- Filho?!</div><div align="justify">- Mas... O que é que se passa? Tu não sabes que o Magalhães tem um filho?</div><div align="justify">- Eu não!</div><div align="justify">- Não?!</div><div align="justify">- Não.</div><div align="justify">- Mas de que é que vocês falam?! Tanto tempo o homem a trabalhar para ti e tu não sabes destas coisas?</div><div align="justify">- Mãe, ele era meu empregado! Não tenho que saber da vida privada dos meus empregados!</div><div align="justify">- Edna! Não foi um empregado qualquer! Não é um homem qualquer! Tu não trazes os teus empregados todos cá a casa!</div><div align="justify">- Era só o que faltava!</div><div align="justify">- Pois por isso mesmo! O homem ajudou-te tanto no teu problema, é tão teu amigo e tu nem sequer sabes que ele tem um filho?! Que coisa esquisita...</div><div align="justify">- Não vejo porquê...</div><div align="justify">- Mas sabes que ele é divorciado?</div><div align="justify">- E?</div><div align="justify">- Ai, meu deus! Mas tu andas com a cabeça onde?!</div><div align="justify">- Mas que importância tem isso?</div><div align="justify">- O quê? Mas tu ainda não te apercebeste que ele te arrasta a asa?</div><div align="justify">- Que raio de frase mais parva...</div><div align="justify">- Tu percebeste!</div><div align="justify">- Aquilo que eu percebo é que vocês os dois são cheios de segredos e confidências.</div><div align="justify">- Não senhora! Ele é muito respeitoso! E tu devías... sabes... tu sabes Edna.</div><div align="justify">- Sei o quê?</div><div align="justify">- Não me faças de tonta! Tu sabes o que quero dizer!</div><div align="justify">- Não, não sei. E acho que mesmo que adivinhasse não ía gostar de saber. Afinal: Quando é que esse Magalhães aparece?</div><div align="justify">- Acho que só a seguir ao Natal...</div><div align="justify">- Hum... Então deixa-o vir...</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-49654330865805139562008-12-24T00:00:00.002+00:002008-12-26T19:42:49.726+00:00<div align="justify">Hoje é aquele dia idiota e deprimente em que as pessoas fingem que amam a familia. </div><div align="justify">O dia em que se alambazam alarvemente nas casas dos outros.</div><div align="justify">O dia em que trazem para casa os mexericos de alguma ovelha ranhosa da familia que serviu de pasto para conversa ao serão até à troca dos presentinhos miseráveis com que dizem que se adoram tanto. Hão-de guardar os papéis de fantasia mais bonitos e os laços dourados para aproveitar para embrulho de alguma chinesice que compram para oferecer no Natal seguinte. Hão-de comparar o preço das suas ofertas com as que recebem e prometem que no ano que vem levam o troco.</div><div align="justify">Sei do que falo.</div><div align="justify">Já passei por isto na minha infância e na adolescência e assim continua a ser.</div><div align="justify">A minha Mãe mantém a tradição e eu lá faço figura de corpo presente mas só a seguir ao jantar. Já não dá para aguentar tantas horas a levar com os predicados da familia. E da vizinha, que acaba por ser mais familia que a de sangue, tantos anos no mesmo prédio.</div><div align="justify">Hão-de haver crianças aos guinchos e um primo qualquer -normalmente o mais obeso- fará de Pai Natal. Todos riem muito. Todos falam muito alto como se estivessem a quilómetros de distância.</div><div align="justify">Na verdade não são kms. São polos opostos do planeta. Apenas tentam disfarçar.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-46771853795157503082008-12-23T00:00:00.002+00:002008-12-26T19:31:49.608+00:00<div align="justify">Entre ontem e hoje tenho tentado o contacto com o Magalhães sem êxito. Já lhe deixei mensagens. Nada. Não percebo porque não me atende, porque foge do que aconteceu. Aconteceu, aconteceu. Ponto. Foi bom para os dois. Não adianta fingir que não se passou nada assim como também não traz beneficio algum fazermos de um bom bocado de sexo um tabu em que ninguém pode tocar sequer em pensamento.</div><div align="justify">Eu tenho pensado bastante, soube-me bem, penso no tanto que me deu prazer e não acredito que ele não o faça. Se acha que é mantendo o silêncio que evita seja lá o que for está muito enganado.</div><div align="justify">Quanto mais se foge mais se cai nas malhas do apetite proibido e o Magalhães não será excepção.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-37808484659603758472008-12-22T00:00:00.000+00:002008-12-25T07:05:33.769+00:00<div align="justify">Não projectei que assim fosse, não tracei nenhum plano diabólico que me levasse aqui. E não estou arrependida que tivesse acontecido.</div><div align="justify">Ontem, quando cheguei da minha corrida da manhã tinha o Magalhães à porta da escada. Deu-me vontade de rir, encostado à ombreira, encolhido cheio de frio, a gola do sobretudo a tapar-lhe as orelhas.</div><div align="justify">Não trocámos uma única palavra. Nem à entrada, nem no elevador, nem na minha sala. Eu fui tomar banho e quando voltei ele tinha feito um chá, estendeu-me a chávena fumegante, sentou-se de frente para mim mas sem me olhar. Eu, muda. À espera do embate, da primeira palavra, decidida a ver quem cedía ao silêncio. Permanecemos assim durante muito tempo, sem som algum, até que ele me olhou nos olhos e disse o meu nome. Só disse o meu nome e ficou suspenso. Dava para ver as reticências do discurso que viría a seguir. Quase de certeza um sermão, uma repreensão, mas a forma como disse o meu nome e o modo como me olhou, a maneira como segurava entre mãos a chávena atirou-me o Magalhães para outra dimensão. E atirou-me a mim para junto dele, a beijar-lhe os olhos, a testa, a boca, a baixar-lhe a gola do sobretudo grosso, a sentir-lhe o pescoço forte e cheiroso.</div><div align="justify">Não me afastou como já o fizera. Abriu-me o roupão turco, beijou-me o umbigo, o peito, os mamilos, excitou-me. Toquei-lhe as calças e senti o pénis duro, libertei-o da roupa e ele sentou-me entrando devagar em mim. Senti o comprimento do seu pénis a entrar na minha vagina, parecía uma coisa sem fim, lenta, um acto perfeito no deslizar.</div><div align="justify">Senti-o ejacular, quente, mas não parou o movimento até eu atingir o orgasmo. </div><div align="justify">E foi muito bom, muito bom mesmo.</div><div align="justify">Ficámos abraçados, eu sentada em cima dele, ele meio vestido, o sobretudo afastado, as calças em baixo, sem dizermos nada, nada, absolutamente nada.</div><div align="justify">Depois levantou-se comigo ao colo, levou-nos ao meu quarto, arrancou a roupa de cama para trás num safanão, atirou-me e despiu-se.</div><div align="justify">O Magalhães tem um corpo belo. E já não é um jovem. Vi a erecção surgir de novo, achei-o ainda mais bonito.</div><div align="justify">Afastou-me as pernas. Passou um dedo na linha fina dos meus pêlos púbicos e depois senti a lingua molhada e quente na minha vulva, no clitoris, fechei os olhos numa sensação tão boa como há muito tempo não tinha. Sabía o que fazía, onde me dar prazer, acelerar, retardar e tudo se prolongava naquela lingua. Penetrou-me novamente. Tivémos um orgasmo quase em simultâneo.</div><div align="justify">Senti-me verdadeiramente feliz.</div><div align="justify">Agora que penso no que aconteceu, dá-me vontade de repetir. Mais e mais.</div><div align="justify">Mas não lhe sinto amor, isso eu sei.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-22454564297605569882008-12-21T00:00:00.002+00:002008-12-25T06:25:26.555+00:00<div align="justify">Não vou almoçar a casa da minha Mãe. Aliás, essa religiosidade dominical dos almoços acabou. Não tenho mais condições de aturar fretes. Chega. Já sei que de inicio ela vai contestar, depois pedir mas habitua-se. </div><div align="justify">O que estranho é o silêncio do Magalhães. E sei que também não ligou para a minha Mãe ou ela ter-me-ía dito. Não quero ser eu a dar o primeiro passo, compete-lhe a ele devolver-me a resposta.</div><div align="justify">E nem sequer lhe vou admitir que me ignore. Ai dele!</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-70148145221650708842008-12-20T00:00:00.002+00:002008-12-25T06:18:24.877+00:00<div align="justify">Ao Sábado de manhã é a hora que melhor se produz no escritório.</div><div align="justify">Não há ninguém, sou só eu.</div><div align="justify">Cheguei com uma vontade férrea e resolvi uma série de questões pendentes, arrumei papelada que tenho vindo a chutar porque é uma coisa que me aborrece sobremaneira. Aliás tudo o que é trabalho de rotina enfastia-me, repudia-me, bloqueio. Há certas coisas que se fazem maquinalmente e são essas precisamente que tenho alguma dificuldade em encaixar, pergunto, explicam, volto a perguntar de outras vezes, repetem e eu não consigo fixar. Ergue-se uma barreira qualquer que me impede de reter este tipo de informação.</div><div align="justify">Mas hoje consegui dar a volta a isto tudo.</div><div align="justify">Sinto uma energia como há muito não tinha.</div><div align="justify">Tenho pena que o Magalhães esteja armado em amuadinho; Ele ía ficar surpreendido com este tipo de actividades que hoje cumpri. Era sempre ele que tratava destas coisinhas chatas... Tenho que confessar que este homem faz-me falta e não só a nível laboral. Até agora parece ser a segunda pessoa na minha vida que não demonstrou medo de mim, que me encara, que me cospe nas ventas o que lhe vai lá dentro.</div><div align="justify">Onde andará o Magalhães?</div><div align="justify">Será que se lembra de mim como eu dele?</div><div align="justify">Será que lhe faço falta?</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-10745774635298144632008-12-19T00:00:00.003+00:002008-12-25T06:05:01.155+00:00<div align="justify">De repente tudo parece ter-se resolvido.</div><div align="justify">Refiro-me a mim. Ao voltar a ser aquilo que era. Ou pelo menos o que o meu fisico era, o sangrar do nariz, o fervilhar por dentro, a vontade de ter sexo.</div><div align="justify">Como um interruptor que se liga e faz luz. Como uma coisa que volta ao seu proprietário depois de ter andado desaparecida por algum tempo, mais escondida dentro de uma gaveta que não se consegue recordar onde se guardou.</div><div align="justify">Eu sou muito organizada mas parece que desta vez preguei uma partida a mim mesma e encafuei-me num armário qualquer só para me arrumar quando as visitas chegassem. Só que as visitas sou eu também.</div><div align="justify">Acontece assim, revisitar-me, mas completa, encontrar-me na fúria de todos os dias.</div><div align="justify">Sei que deixei de sentir nada. Ou seja, deixei de sentir o que pouco sentía: nem muita alegria, nem muita raiva, era tudo de raspão.</div><div align="justify">Agora não, tudo se entranha.</div><div align="justify">Como é bom voltar a casa.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-49790308532978753732008-12-18T00:00:00.003+00:002008-12-21T03:49:11.357+00:00<div align="justify">Falemos de mim.</div><div align="justify">Falemos do que vi nos outros, me fez lembrar do que pensei estar apagado, falemos destas horas que perfazem já tantas neste espaço amarelado como as memórias que me ofendem por não quererem chegar. Eu devía-me ter lembrado por mim, não por questões dos outros, socos, arranhadelas, insultos.</div><div align="justify">Falemos de mim, das explicações que compro a este pateta alegre que precisa tanto de análise quanto eu.</div><div align="justify">Apetece-me insultá-lo, chamar-lhe incompetente por não me ter feito recordar por mim, por não me ter avisado que a qualquer altura um click podería accionar o mecanismo desta máquina infernal que se chama cabeça. Conto-lhe metade do que se passou, aguardo que sugira a outra parte que falta. Mas não, perde-se em divagações do déjà vu, das partidas da mente, das semelhanças e simpatias com que o subconsciente se guarda para preservar uma sanidade mais ou menos estável, agrupar-se para não se isolar, atira-me Freud, volta ao desejo, à minha falta de estímulos para a predisposição do coito, a ausência de orgasmos mentais resolvidos no corporal.</div><div align="justify">Apetece-me vomitar-lhe nos pés, arruinar-lhe de vez as peúgas de fibra tão má como a da alcatifa amarela.</div><div align="justify">Mas só sinto um fio quente a molhar-me o lábio. Oxalá sangre bastante até as memórias escorrerem todas cá para fora. </div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2866106603676362122.post-62932172754246371442008-12-17T00:00:00.003+00:002008-12-21T03:34:46.318+00:00<div align="justify">Primeiro o som de vozes muito alto. Depois, um estrondo. Dois. Vários. Gritos. Confusão.</div><div align="justify">Abri a porta e cheguei à sala. </div><div align="justify">A Paula estava completamente desfigurada, agarrada pelas outras mulheres, o Daniel com as mãos na cabeça, os homens de volta dele. Papéis no chão, uma secretária tombada, o computador caído.</div><div align="justify">Fez-se um silêncio de morte quando deram pela minha presença.</div><div align="justify">Depois uma série de palavras que me chegaram aos rolos, às convulsões, nada que eu entendesse, só barulho.</div><div align="justify">Deixei-me estar, precisava de arrumar aquela cena diante dos meus olhos aqui, neste local de trabalho e não na rua ou numa tasca manhosa em que as conversas e os actos se desenvolvem de faca na liga.</div><div align="justify">Muitas explicações, tudo ao mesmo tempo e num descuido das outras, a Paula liberta-se e salta como uma fera sobre o Daniel, ataca-o, bate-lhe descontroladamente onde consegue atingir, urra, perdeu um sapato, a blusa rasgada, ele só protege a cara e os genitais.</div><div align="justify">Toda a gente acode e esquecem-me. Assisto a tudo. De repente acende-se uma imagem dentro de mim, uma visão, sou eu, não é a Paula ou o Daniel, sou apenas eu, sem som, apenas imagens que julguei nunca conseguir recordar... Então foi isto que me aconteceu a mim... Isto, esta coisa de animal, ferir para não morrer, tudo à volta é perigo.</div>Ednahttp://www.blogger.com/profile/12048297513477856036noreply@blogger.com0