- Entre, feche a porta, não quero a porta escancarada.
- Não posso demorar, estou à espera da chamada do cliente do Norte...
- Não é coisa demorada.
- Diga.
- A Paula?
- Ahhh...
- Ah o quê?
- Telefonou, a dizer que está doente...
- Doente.
- Sim... Posso ir?
- Não. Que doença?
- Isso não sei muito bem...
- Páre de a encobrir, sabe como detesto mentiras, ainda mais tão escandalosamente arranjadas.
- A sério Edna, não sei! Só sei que telefonou a dizer que não podía vir!
- Muito bem.
- Posso ir? É a chamada...
- Não, não pode ir. Ligue para a Paula.
- Ah, tudo bem! Logo que atenda a chamada...
- Agora. Daqui do meu telefone.
- Agora???
- Será que ouço o eco da minha voz?! Sim, agora!
- Mas...
- Não discuta Afonso, por favor ligue-lhe.
- Não posso Edna...
- Então?
- Não posso...
- Quer contar-me o que se passa?
- Foi uma cena... A Paula apareceu...
- Onde?
- Fizémos a meia-noite em casa do Daniel...
- E?
- A Paula aparaceu, fez um escandalo, aos gritos à porta do prédio, a contar tudo...
- Lindo!
- O Daniel foi ter com ela e pediu-lhe para parar com aquilo...
- Claro que ela não parou...
- Não, não, desatou a tocar a todas as campainhas do prédio, a vizinhança, um escabeche dos diabos, fomos todos ver se a acalmávamos mas a mulher tinha o diabo no corpo, não paráva de dar pontapés, estava entornada, sei lá!
- Que bela cena...
- Mas a coisa piorou quando a mulher do Daniel chamou a Policia e aí é que foram elas!
- O quê?! Saíu melhor que a encomenda!
- Pois foi, veio a Policia mas até a eles ela desatou a mandá-los para o... está a perceber?
- Estou, mas gostava muito que o dissesse.
- Para o, o, percebe?
- Já percebi, go on...
- Bem, resumindo: A bófia levou-a mas não a prendeu. Devem ter tido pena, sei lá...
- E você?
- Eu?
- Teve pena?
- Nem sei... No inicio estava-lhe com uma raiva tremenda, acho que até me apeteceu dar-lhe uns carolos mas depois...
- E deu?
- Claro que não Edna! Eu não bato em mulheres!
- E depois?
- Depois tive pena dela... Saber como ela é aqui, conhecer a profissional e vê-la daquela forma, foi uma coisa mesmo triste. Acho que ela nunca mais vai aparecer.
- Vai sim. Pelo menos uma última vez.
- Acha?
- Pode ir Afonso. E deixe a porta aberta.
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