terça-feira

É sem dúvida uma arte, quase uma religião.
Se me queixasse sería uma doutrina. Um modo de vida. Mas não, não me queixo e também não sei explicar porque o faço. Afastar os outros, afastar-me. Simplesmente acontece, quando dou por mim já o disse, já o fiz. Mas não sinto arrependimento, pelo menos naquela forma do remorso, em que se morde os lábios para não voltar a dizer ou se enfiam as mãos atrás das costas para não apontar.
As minhas atitudes custam mais caro a mim do que aos outros. Afinal, eles lá continuam a sua vida, a relacionarem-se com quem não os expulse e eu fico na minha. Eu e o saco de lixo.
Também não fico muito tempo a remoer no assunto, não me deixo ir atrás de lamentações e se houver outras oportunidades falar-se-á, dir-se-á coisas bonitas e coisas feias, daquelas de ataque, vingativas e perfurantes. Sentir-se-á o sabor da vitória na boca, embora um pouco amargo. E nisso os outros não são diferentes de mim, todos gostam do seu pedacinho de ficar por cima. Está-lhes na carne como animal que conquista território.
O Magalhães há-de estar furioso.
Eu já tive a minha parte, agora o contra-ataque será dele.
Tem de ser, ou será um desapontamento.

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