sábado

Tal como eu prevía deixou-me pendurada à porta.
Eu sabía que ela estava em casa, quase senti a respiração dela, o olho no olho-mágico a espreitar-me.
Quando me dirigía para o elevador senti o trinco a abrir-se. Não me voltei. Ela veio para o patamar, ficou encostada à ombreira, sentía-lhe os olhos à espera do contacto.
Só quando disse o meu nome é que me voltei.
Está um farrapo. Parece que envelheceu precocemente. Ao vê-la custa-me recordar a profissional que tive ao meu serviço, inovadora, empreendedora, arrojada, uma valentia inspiradora que punha os outros a mexer e que eu precisava para manter o sangue na guelra dos mais antigos.
Neste instante não acho nada. Se me cruzasse com ela na rua sería inexistente, um obstáculo a evitar. Para onde foi a Paula que eu conheci?
Para o amor?
Que amor cabrão é este que ataca como um vírus e mata as pessoas dentro das pessoas, suga-as e cospe um caroço amargo, comum, imprestável, feio?
Entrei. Escuro. Há quanto tempo é noite aqui dentro?

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