quinta-feira

Falemos de mim.
Falemos do que vi nos outros, me fez lembrar do que pensei estar apagado, falemos destas horas que perfazem já tantas neste espaço amarelado como as memórias que me ofendem por não quererem chegar. Eu devía-me ter lembrado por mim, não por questões dos outros, socos, arranhadelas, insultos.
Falemos de mim, das explicações que compro a este pateta alegre que precisa tanto de análise quanto eu.
Apetece-me insultá-lo, chamar-lhe incompetente por não me ter feito recordar por mim, por não me ter avisado que a qualquer altura um click podería accionar o mecanismo desta máquina infernal que se chama cabeça. Conto-lhe metade do que se passou, aguardo que sugira a outra parte que falta. Mas não, perde-se em divagações do déjà vu, das partidas da mente, das semelhanças e simpatias com que o subconsciente se guarda para preservar uma sanidade mais ou menos estável, agrupar-se para não se isolar, atira-me Freud, volta ao desejo, à minha falta de estímulos para a predisposição do coito, a ausência de orgasmos mentais resolvidos no corporal.
Apetece-me vomitar-lhe nos pés, arruinar-lhe de vez as peúgas de fibra tão má como a da alcatifa amarela.
Mas só sinto um fio quente a molhar-me o lábio. Oxalá sangre bastante até as memórias escorrerem todas cá para fora.

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