quarta-feira

Hoje é aquele dia idiota e deprimente em que as pessoas fingem que amam a familia.
O dia em que se alambazam alarvemente nas casas dos outros.
O dia em que trazem para casa os mexericos de alguma ovelha ranhosa da familia que serviu de pasto para conversa ao serão até à troca dos presentinhos miseráveis com que dizem que se adoram tanto. Hão-de guardar os papéis de fantasia mais bonitos e os laços dourados para aproveitar para embrulho de alguma chinesice que compram para oferecer no Natal seguinte. Hão-de comparar o preço das suas ofertas com as que recebem e prometem que no ano que vem levam o troco.
Sei do que falo.
Já passei por isto na minha infância e na adolescência e assim continua a ser.
A minha Mãe mantém a tradição e eu lá faço figura de corpo presente mas só a seguir ao jantar. Já não dá para aguentar tantas horas a levar com os predicados da familia. E da vizinha, que acaba por ser mais familia que a de sangue, tantos anos no mesmo prédio.
Hão-de haver crianças aos guinchos e um primo qualquer -normalmente o mais obeso- fará de Pai Natal. Todos riem muito. Todos falam muito alto como se estivessem a quilómetros de distância.
Na verdade não são kms. São polos opostos do planeta. Apenas tentam disfarçar.

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