domingo

O Magalhães não apareceu, não telefona, vou deixando o tempo passar até à última sob o risco do atraso, que é coisa que abomino.
O almoço é à uma. A Mãe é infalível nestas coisas do cumprimento. Acho que por causa de ter sido doméstica toda a vida, sempre com a preocupação de orientar marido, filha e casa, nada falhar, tudo rigoroso na prontidão. Não perdeu esse hábito, nem quando saí de casa nem quando ficou viúva. Talvez lhe faça bem... Pensar que ainda há qualquer coisa que dependa dela, a casa, a vida, o mundo...
Não me apetece nada ir. Sem o Magalhães vamos caír as duas no silêncio. Depois ela há-de insistir para eu comer mais, repetir, alimentar-me, as eternas perguntas sobre o que como "lá fora", o quão magra estou, o ainda não me ter recuperado do meu problema.
Irrita-me quando se refere a mim e à minha depressão como o "meu" problema, di-lo de uma forma quase apagada mas soletrada, como se fosse uma vergonha, um quisto, uma borbulha.
Depois levará a conversa para o casamento, a falta que faz estar-se acompanhada na vida, que eu já não sou uma garota.
É tudo tão previsivel na vida desta mulher, desta Mãe.
Quer saber de mim tal como orienta a sua casa.

1 comentário:

SONY disse...

As mães são todas assim?

Por vezes chegam a cansar de se preocuparem tanto.

Sony