segunda-feira

A acidez da minha vida corrente é tal que até os pesadelos se escaparam.
Não sonho mais, não me recordo mais se sonhei, recorro ao que trago detrás para ter a certeza que já sonhei, que já tive pesadelos que me amachucaram e naquele tempo o que quería era não os ter.
Até a insatisfação se revela comum... comparações entre um antes e após, a vida e a moribunda que não sabe onde é a porta do céu nem a do inferno e que, invariavelmente se engana numa e noutra, buscando sempre a que não é, a que não quer, a que rejeita e acaba ciclica e viciosamente por enroscar no retorno.
Eu que sempre condenei o curto e escasso limite do respirar, vejo-me na posição do bafo atirado ao espelho, um desenho feito na ponta de um dedo, a medo, cauteloso, não vá descobrir uma imagem que não goste.
Mas o pior de tudo é esta consciência ingrata que me sussurra que acabo aos poucos e da acção não acho o pau que encrava a engrenagem e faz explodir a máquina. A dos sonhos. Simplesmente obsoleta.
Talvez o meu tempo tenha passado.
Reservo-me um último sonho, um último pesadelo. Sem nada é que não dá mesmo.

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