sábado

De quando em vez passo a noite no quarto de visitas. Gosto de alternar a cama onde pernoito, dá-me uma sensação de novidade e de quebra na monotonia.
O cheiro a novo agrada-me.
No meu quarto tenho vezes em que sinto o odor dele... eu sei que isto não passa de uma partida da minha cabeça, uma memória odorífera que se instalou e que ainda não limpei devidamente. Mas lá chegarei, há-de haver o dia em que ele nunca existiu.
Estas mudanças de leito dão cabo da minha empregada, mais trabalho e a expectativa sobre onde vai mudar os lençóis. Noutro dia perguntou-me se eu ía mudar de vez para o quarto de hóspedes. Percebi que quería informações, não era uma mera pergunta curiosa mas a minha seca negativa arrumou-a e não voltou a tocar no assunto.
Até eu já me coloquei esta questão: E se eu mudasse? Não esporadicamente consoante a veneta, mas em definitivo, ou pelo menos durante um largo tempo. Mas surge-me uma inquietação qualquer que me deixa indecisa, por vezes quase ansiosa como se fosse ordem a cumprir e lá volto ao saltitar. Depois, o meu saco de lixo é diferente naquele quarto, parece descabido, mal recheado, falta-lhe a desordem dos membros soltos, de veias, de dores, de tudo o que o faz vivo e me contempla quando o abro... Fica asséptico, higienizado e eu fico a sentir-me uma estranha na minha própria casa.
Se a situação financeira fosse mais favorável mudava daqui para fora.
Há muito couro meu pendurado nestas paredes.

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